segunda-feira, 22 de junho de 2009

O silêncio absoluto...


Aninhou-se na rede como se estivesse em um útero. Admirava as gotas que secavam pelo sol recém saído por detrás das nuvens opacas e volumosas, formando um aroma de chuva que muito lembrava a infância. Olhou para o lado e o percebeu velando sua beleza com um sorriso conhecido. Lembrou-se de como chegara até ali e sorriu também...

Momentos como aquele deveriam ser eternizados em sensações de paz e aconchego, mas seu coração estivera aos pulos, como uma cama elástica e seu saltador incansável.

Tanto para dizer e sua boca fechou-se qual cadeado enferrujado. Não tivera coragem para derramar as verdades que afogavam sua alma. Sentia-se covarde, perdida em palavras que teimavam em não sair.

Fora ao seu encontro com propósito definido. Seria uma exposição gratuita, é verdade, mas era necessária. Precisava daquele despejo. Não suportava mais sentir tanto e dizer tão pouco. Tinha que deixá-lo ciente do estrago que tinha causado.

Durante o percurso, leu e releu o roteiro inúmeras vezes, ensaiou cenas, repetiu os diálogos exaustivamente, determinou os olhares que utilizaria...de nada adiantou...

Ao abrir a porta, todo o cenário criteriosamente decorado perdeu-se no sorriso. Esqueceu-se de todos os movimentos escolhidos e refugiou-se no abraço. Ah, aquele abraço que faz o suor esquecer de sair e torna o corpo quente, quase febril. Mas não era por isso que estava lá...ou era?

Desfez-se dos braços e tomou uma distância segura, que a fazia permitir falar sem ser interrompida pela súplica de esquecer o que fora fazer. Olhou-o nos olhos, aqueles mesmos olhos que a fizeram conhecer palavras que não precisam ser ditas, olhos que se comunicam em silêncio absoluto, quase ensurdecedor.

Os lábios se abriram, mas o ar tornou-se cimento em sua garganta. Palavras ecoavam por todo o seu corpo, lutando para sair, murrando suas entranhas, cavando brechas por entre os dentes, como um prisioneiro que há muito aguarda a liberdade.

Ele, sem perceber a luta entre a mulher e suas palavras, deixou-se cair no tapete que tantas vezes fora testemunha de seus momentos de entrega. Puxou-a para si com a sofreguidão da saudade que inunda um coração em tempestade.

A mulher, que tanto planejou diálogos, rendeu-se ao mar de ondas turbulentas que chacoalhavam seu corpo, preferindo esquecer por hora o que fora fazer.

Os mesmos olhos nada disseram. E ela percebeu que não seria necessário dizer mais nada...estava feliz!


Silvia Mara

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