quarta-feira, 11 de março de 2009

A CUMPLICIDADE NA GARUPA


Na minha época bicicleta era bicicleta mesmo. Ninguém falava bike, era bicicleta e pronto. E podíamos andar por aí, em qualquer lugar. As ruas não eram tão povoadas por carros, ônibus, táxis, motos, existia um espaço real para o que hoje se chama “transporte alternativo”.

Andávamos de bicicleta por sua liberdade, por não precisar de habilitação, por podermos pedalar na descida da ladeira, levantar os pés e sentir a velocidade aumentar, aumentar e, no fundo, não termos a certeza de que o freio iria funcionar. Não tinha nada de ecologicamente correto.

Tinha os dias chuvosos, as ruas de barro, de onde saíamos com as costas com catapora de lama. A mãe reclamando da camisa que fora branca e que nunca mais seria a mesma...

Tinha corrida no bairro, passeio na floresta, pedalada na praia, comprar pão na padaria bem longe, levar carta no correio, ir à casa de um amigo, curso de inglês, natação. Podíamos tudo de bicicleta. Hoje em dia, seguro mesmo, no máximo, uma voltinha no play. Para quem mora perto da praia, da lagoa, ainda arrisca uma volta no calçadão, mas quem oferece a certeza de que voltará com sua amiga para casa?

Até as lembranças ditas ruins são boas. Os dedos dos pés presos no pedal arrancando-nos pedaços ensanguentados, correntes soltas que nos deixavam com as mãos sujas de graxa até prendê-las novamente, quedas nas curvas, tombos inevitáveis nos aprendizados, joelhos, cotovelos, queixos ralados. Quem tem uma cicatriz proveniente da bicicleta tem história, e muito orgulho dela.

Tem uma lembrança especial quando falo em bicicleta... a garupa!!! Que delícia era levar um amigo ou ser levada por ele na garupa!!! Tornávamos-nos um só elemento, víamos as mesmas coisas, percorríamos os mesmos caminhos, ruas, becos, construíamos cumplicidade, amizade, confiança, afinal, conduzir um amigo é levar um bem precioso.

Os tempos mudaram, as décadas passaram e procuro ver as mesmas brincadeiras e alegrias nos olhos infantis com os quais me deparo todos os dias. Sem saudosismo, gostava mais da “minha época”. Mas as crianças de hoje preferem
hoje mesmo. E no final estamos todos felizes. Poderia ser melhor?

Silvia Mara

3 comentários:

inutensilio disse...

minha bicicleta...
moro em uma cidade pequena, por isso ainda uso com frequência...

mas nenhum carro de luxo proporciona tamanha sensação de liberdade,do que minha humilde bicicleta.

abraços...

Silvia Mara disse...

êêêê delícia...
obrigada pela visita. aguardo breve retorno...
bj

ney disse...

Parabéns! Pedalei com você nesses bons e inesquecíveis caminhos. E vamos em frente pedalando. ney (http://neyniteroi.blogspot.com/

Postar um comentário