quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Transbordar...


Às vezes ela transborda... suporta todos os pesos, mas de repente, transborda...

É um transbordamento involuntário, inconseqüente, que sufoca, afoga, escasseia a voz, a mente...
Quando a vida joga suas malas pesadas, suas caixas lacradas pelo tempo, suas inverdades que dilaceram a alma, seu corpo respira com dificuldade. Tenta de todas as formas chegar à superfície, encontrar o oxigênio que faria seu pulmão inflar ao máximo... mas não consegue, o ar não chega...

É a realidade batendo à sua porta, “toc toc”, e quando ela atende... sim, ela TEM que atender. Não se pode deixar a vida lá fora para sempre. Há uma insistência absurda, que não permite desistência. Esmurra sua porta, chutes, socos, não para até que esteja escancarada, com o vento como um furacão arrebatando suas emoções, seus medos, seus sentimentos mais sórdidos. É, ela também tem sentimentos sórdidos...

Um tufão sacode seus cabelos, solta sua garganta, arreganha suas entranhas, e toda sua verdade aflora, emerge, trazendo à tona as mais amargas lembranças. É, ela também tem lembranças ruins...

Um gosto ácido chega às papilas gustativas, ela não gosta. Engole com dificuldade. Deixa que todos os gostos ruins, lembranças amargas, sentimentos sórdidos saiam... obriga-os a sair. Não pode viver com eles. Só fazem parte dela por milionésimos de segundo, mais do que isso contaminariam sua alma, seu espírito, sua aura, seu corpo...

Quando olha para os lados, se vê sozinha... e acha ótimo. Respira profundamente. Repete o movimento, precisa de muitos gestos repetidos como esse até que esteja purificada...

Não gosta do que aconteceu, mas já aconteceu. É uma pena que aconteça... será? Sim, é uma pena. Gostaria de não transbordar esse tipo de realidade. Na verdade, gostaria que essa realidade não existisse. Mas existe. Como vivê-la sem se afogar ela aprenderá com o tempo...

Simula um sorriso, na verdade ele parece real, levanta a cabeça na direção das estrelas, agradece a vigília, escuta seu coração aos pulos, a respiração ofegante e caminha, sempre em frente, trilhando um caminho nunca antes percorrido, na esperança de que aquela realidade nunca mais esmurre sua porta.

Silvia Mara

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