terça-feira, 8 de setembro de 2009

A ausência necessária...

A ausência muitas vezes se faz necessária. Precisamos arrumar a casa, limpar os cantos, tirar teias que insistem em aparecer e permanecer. Buscamos uma arrumação perfeita, sem lembrar que “trabalho de casa não rende”. Quando você acaba, logo tem outro a fazer...

A vida é um trabalho de casa. Precisamos arrumá-la todo o tempo, mas devemos fazê-lo sem paranóias, neuras, transtornos obsessivos compulsivos... é a grande dificuldade do ser humano. Como já citei inúmeras vezes, o imprevisível é um fiel companheiro de viagem, não nos abandona nunca, tornando nosso caminho mais luminoso, mas muito sombrio às vezes.

A deliciosa prática da escrita que exorciza, acalenta, desabafa decidiu dar um tempo. Fiquei perdida, beirando o medo de ter perdido meu mais poderoso instrumento de catarse. Enfiei minha mente nos livros, outro poderoso instrumento, e aprendi com Isabel Allende, que disse que aprendeu com Ann Lamott, que muitas vezes o poço fica vazio, basta enchê-lo novamente. Sendo assim, resolvi afogar meu poço. Ainda não o enchi, mas me permite rabiscar essas linhas tortas.

Viajar é um grande aliado e podemos fazê-lo de inúmeras formas. Estive com uma família chilena, participando de suas aventuras, desventuras, festas, confissões, perdas de entes queridos, nascimentos. Conheci todos juntos nas alegrias e tristezas. Coisas que só um clã sabe fazer.

Viajei para uma Cabana, onde tinha um encontro marcado com o divino. Fortaleci minha fé, restaurei buracos, abri meu coração, compreendi as muitas amarguras que assolam nossas vidas e saí de lá mais humana e ao mesmo tempo fazendo parte do universo.

Vivenciei um drama pessoal de outra pessoa em Nova York para depois conhecer o prazer na Itália. Acreditava que aprender a falar italiano pelo simples prazer de fazê-lo seria um sonho só meu, mas descobri que estava equivocada. Passear pelas ruas de Roma, Bologna, Nápoles, Veneza, Sicília, Florença, Sardenha, Calábria encheu-me de energia e preencheu bastante meu poço. O paladar é um sentido muito aguçado em mim, satisfazê-lo na Itália é tudo que um estômago glutão deseja. E o país com forma de bota sabe enaltecer sabores com suas trattorias, gelatos, pratos de sabores impensáveis. O bel far niente dos italianos deixa-nos livres da culpa por sermos ocidentais.

Estive na Índia pela segunda vez. Na primeira vi mais o povo indiano, na segunda me limitei a permanecer no ashram, buscando o equilíbrio que só a meditação sabe oferecer.

Estudar com um xamã na Indonésia fez com que entendesse a simplicidade. Bali tem o poder de devolver seu amor por você mesmo. Lembrei mais uma vez que faço parte do universo.

No meio disso tudo procuro a Felicidade Clandestina com a Clarice, que realmente nos torna felizes com suas linhas exuberantes e metafóricas.

Adoraria que essa viagem me solicitasse visto, deixasse meu passaporte mais tatuado, e até que eu gastasse muitos dólares, euros, rúpias, mas aconteceu em meio a páginas, coisas que só um livro é capaz de fazer. Mas minha viagem não acabou. Não acaba nunca.

Depois eu volto, quando o poço estiver cheio.


Silvia Mara

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