Dia desses sonhei com meu Vô.
Não me lembro do sonho, foi um daqueles normais, com
situações cotidianas, mas como a partida dele para o outro plano ocorreu já há
alguns anos... bateu saudade das grandes e comecei a lembrar...
Lembro-me dos seus óculos quadrados, sua medalha no peito,
sempre de relógio, olhos verdes brilhantes, cheios de segredos para nos contar.
Tinha até um cachimbo, que vez ou outra era acendido, tornava-o engraçado.
Ele era um Vô dos bons! Daqueles que contam histórias
sentado na poltrona da sala, com os netos e os cachorros sentados a sua volta.
Meu Vô decolava um avião e isso o tornava o maior de todos
os homens. Da sua passagem pela Força Aérea Brasileira saíram inúmeras
histórias, todas pintadas com suas cores exclusivas. Sim, meu Vô tinha uma
aquarela especial, que tornava qualquer história incrivelmente original!
Ele foi portador de uma terrível decepção. Quando disse que
também seria piloto de avião, o ouvi dizer lamentando: “Não pode, minha neta,
meninas não pilotam aviões”. Não entendia o porquê disso, mas fiquei bem brava
na época.
Meu Vô me ensinou a dançar. Ele e minha avó dançavam nos
bailes, nas serestas e em casa. Tínhamos aulas
deliciosas, a trilha sonora era desconhecida para nós e aprendemos a gostar de
tudo. E ainda tinham as marchinhas de carnaval, conhecemos todas, independente
da época.
Meu Vô gostava de chimarrão e melado com farinha. Gostava
dos piores doces que vinham nos sacos de Cosme e Damião, dos piores bombons da
caixa da Garoto, de café bem doce armazenado na garrafa térmica que ficava ao
lado dele. Gostava tanto das castanhas do Natal, que era ele quem descascava
todas, uma panela de pressão beeem cheia.
Na hora do almoço descascava as laranjas, mas não as partia
ao meio. Cortava uma parte menor, chamando-as de tampinhas e eu e minha irmã
comíamos nossa parte especial, feita só pra nós.
Meu Vô ficava em pé, encostado no muro, braços apoiados, cigarrinho
sustentado entre os dedos (antes do enfisema, depois largou), sem dizer nada,
só cumprimentando todos que passavam e falavam com ele. Meu Vô era popular!
Nas férias de verão, nas férias de julho, nos feriados
longos, eu e minha irmã corríamos pra sua casa. Tivemos a melhor infância que
uma criança pode ter. Não só pelas grandes possibilidades que o local oferecia,
mas porque era Casa de Vô e Vó, e
isso já explica tudo.
Meu Vô, já nos últimos anos, repetia seus contos e causos, mas os fazia tão brilhantemente
que nem nos importávamos em escutá-los, eram todas histórias novinhas, que nos
levavam de volta à nossa infância.
Sinto saudade, sem tristeza, mas é uma saudade infinita, porém
nos encontraremos novamente e sei também que ele está sempre bem pertinho de
nós.
Te amo Vô!
4 comentários:
Vivinha, essa postagem relata fielmente o motivo de nossa saudade, pelas coisas simples que ele valorizava e que aprendemos a apreciar também. Achava muito engraçado quando ele ia nas festas de criança e ficava atracado com o brinde da mesa pra ninguém pegar rsrsrs...Estou muito emocionada...revivi durante essa leitura os momentos maravilhosos que compartilhamos..."herói...ingrês...três"...rsrs
Te amãããaõoo!!
É mana, foi um momento de recordação mesmo. O sonho foi só um click, uma inspiração pra esse texto.
Te amãããããão também!
Quem te deu esse scanner de almas? Adorei e revivi. Grande beijo
Acho que foi ele ao meu lado, soprando ao pé do ouvido...rsrs
Que bom que fez a viagem no tempo também!
Postar um comentário