sexta-feira, 12 de abril de 2013

Meu Vô!



Dia desses sonhei com meu Vô.
Não me lembro do sonho, foi um daqueles normais, com situações cotidianas, mas como a partida dele para o outro plano ocorreu já há alguns anos... bateu saudade das grandes e comecei a lembrar...
Lembro-me dos seus óculos quadrados, sua medalha no peito, sempre de relógio, olhos verdes brilhantes, cheios de segredos para nos contar. Tinha até um cachimbo, que vez ou outra era acendido, tornava-o engraçado.
Ele era um Vô dos bons! Daqueles que contam histórias sentado na poltrona da sala, com os netos e os cachorros sentados a sua volta.
Meu Vô decolava um avião e isso o tornava o maior de todos os homens. Da sua passagem pela Força Aérea Brasileira saíram inúmeras histórias, todas pintadas com suas cores exclusivas. Sim, meu Vô tinha uma aquarela especial, que tornava qualquer história incrivelmente original!
Ele foi portador de uma terrível decepção. Quando disse que também seria piloto de avião, o ouvi dizer lamentando: “Não pode, minha neta, meninas não pilotam aviões”. Não entendia o porquê disso, mas fiquei bem brava na época.
Meu Vô me ensinou a dançar. Ele e minha avó dançavam nos bailes, nas serestas e em casa. Tínhamos aulas deliciosas, a trilha sonora era desconhecida para nós e aprendemos a gostar de tudo. E ainda tinham as marchinhas de carnaval, conhecemos todas, independente da época.
Meu Vô gostava de chimarrão e melado com farinha. Gostava dos piores doces que vinham nos sacos de Cosme e Damião, dos piores bombons da caixa da Garoto, de café bem doce armazenado na garrafa térmica que ficava ao lado dele. Gostava tanto das castanhas do Natal, que era ele quem descascava todas, uma panela de pressão beeem cheia.
Na hora do almoço descascava as laranjas, mas não as partia ao meio. Cortava uma parte menor, chamando-as de tampinhas e eu e minha irmã comíamos nossa parte especial, feita só pra nós.
Meu Vô ficava em pé, encostado no muro, braços apoiados, cigarrinho sustentado entre os dedos (antes do enfisema, depois largou), sem dizer nada, só cumprimentando todos que passavam e falavam com ele. Meu Vô era popular!
Nas férias de verão, nas férias de julho, nos feriados longos, eu e minha irmã corríamos pra sua casa. Tivemos a melhor infância que uma criança pode ter. Não só pelas grandes possibilidades que o local oferecia, mas porque era Casa de Vô e Vó, e isso já explica tudo.
Meu Vô, já nos últimos anos, repetia seus contos e causos, mas os fazia tão brilhantemente que nem nos importávamos em escutá-los, eram todas histórias novinhas, que nos levavam de volta à nossa infância.
Sinto saudade, sem tristeza, mas é uma saudade infinita, porém nos encontraremos novamente e sei também que ele está sempre bem pertinho de nós.
Te amo Vô!

4 comentários:

Sheley disse...

Vivinha, essa postagem relata fielmente o motivo de nossa saudade, pelas coisas simples que ele valorizava e que aprendemos a apreciar também. Achava muito engraçado quando ele ia nas festas de criança e ficava atracado com o brinde da mesa pra ninguém pegar rsrsrs...Estou muito emocionada...revivi durante essa leitura os momentos maravilhosos que compartilhamos..."herói...ingrês...três"...rsrs
Te amãããaõoo!!

Silvia Mara disse...

É mana, foi um momento de recordação mesmo. O sonho foi só um click, uma inspiração pra esse texto.
Te amãããããão também!

Sergio Rocha disse...

Quem te deu esse scanner de almas? Adorei e revivi. Grande beijo

Silvia Mara disse...

Acho que foi ele ao meu lado, soprando ao pé do ouvido...rsrs
Que bom que fez a viagem no tempo também!

Postar um comentário