quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Livrando-se...


Decidiu cobrir-se. Toda a exposição anterior não fazia mais sentido.
Bateu a porta e não olhou pra trás.
Queria chegar em seu abrigo seguro, mas seus pés não alcançavam a velocidade necessária. A maquiagem feita com esmero escorria sob os olhos, deixando-a ainda mais nua.
Chegar em casa deu-lhe conforto, mas era falsa a sensação de segurança...
Sentou-se no sofá macio, tentando no aconchego das almofadas receber o colo que precisava.
Pensar em tudo aquilo não era mais uma opção. Tinha que prosseguir, mover-se.
Não tinha criado expectativa sobre nada, tudo aconteceu conforme o combinado, Esqueceram de dizer-lhe que só ela devia cumprir tais acordos.
Sua mente estava povoada de gritos e sussurros. Queria calar a todos, calar o mundo, mas pareciam surdos aos seus apelos.
Queria reclamar com o universo, com o algoz, mas sabia que a culpada era somente ela mesma. Não atendeu às súplicas dos seus instintos, não ouviu os conselhos da vida, não quis ver os sinais escancarados. De nada adianta reclamar agora...
Nua, surda, rouca, encharcada de um suor amargo, jogou-se num banho suplicante, disposta a lavar sua alma impregnada de dor e raiva.
A água desceu pelo corpo trêmulo, promovendo o milagre da restauração do equilíbrio e da serenidade.
Embalou-se no cheiro do café quente e forte. Ela era assim, o morno, a metade, o mais ou menos não faziam parte dela. Ela sempre foi inteira, intensa e por isso sentia tanto.
Levaria um tempo pra digerir tal coisa, mas não se morre disso e todo mundo sabe.
Sorriu e percebeu a direção que tomaria. Sorriu novamente.
Quando se livra de determinadas coisas...não se perde nada.

Silvia Mara

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