sexta-feira, 12 de março de 2010

VINTE DIAS SEM PALAVRAS...


Quando entrou no avião sentiu-se livre. Um pouco apreensiva pela partida, mas com a certeza de que a ausência lhe faria bem. A viagem seria relativamente curta, o que ela precisava mesmo era se desvencilhar da rotina a que estava habituada.

Dias ensolarados, cerveja gelada, papos sobre qualquer coisa, picolé, pastel... alternados com mergulhos num mar brilhante, revigorante, daqueles que elevam sua energia ao máximo.

Noites claras, estrelas cintilando o céu, lua acordando e dormindo, mais cervejas geladas, crepes, casquinhas... e o sol voltando pela manhã.

Conversas leves, papos-cabeça, pouca TV, muitos livros, música, cinema, gente nova, nada de internet... férias de verdade.

Aproveitou ao máximo as caminhadas, os passeios, os lugares diferentes aos quais nunca tinha ido, a noite, o dia, o sol e a lua. Afundou os pés na areia, deitou sob o céu estrelado, mergulhou no mar à noite, fez fogueira no calor.

Foi ótimo! Mas acabou e ela voltou.

No desembarque percebeu que alguma coisa tinha ficado fora das férias... ahhhh, as palavras...

Todas as palavras da viagem foram maravilhosas, enriquecedoras por motivos variados, mas a única coisa que faltou foi a tal cumplicidade... essa não se adquiri assim, sem mais nem menos. Até porque se trata de muito mais que intimidade. É a sintonia, o adivinhar o pensamento alheio, o completar a frase, o entender e rir das maiores besteiras, bobeiras, criancices ou o nome que quiser dar.

Esse é o problema! Ficar “calada” por vinte dias gera um vazio e um turbilhão de conversas inimagináveis, sem fim, bobas e profundas e só o tempo é capaz de colocar tudo no lugar.

Silvia Mara