quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Entorpecida






Gosto de palavras ditas com os olhos, de pelos arrepiados, da pele que eriça, da nuca molhada...
Gosto da boca aberta, do nariz gelado no frio, dos cheiros quentes, da língua sôfrega, por dizer ou por fazer...
Gosto dos pés descalços, da areia fina, do mar gelado, do mato molhado, dos cabelos ao vento, embaraçando...
Gosto das mãos suadas, das unhas grandes, que arranham, coçam, entrelaçam, dos dedos que falam...
Gosto do nariz que tem memória, dos olhos que levam ao passado, da boca trêmula de lembranças...
Gosto das surpresas, dos sustos, do pavor do desconhecido, da sobrancelha levantada, mas de um lado só...
Gosto de tapete no chão da sala, do abraço do cachorro, do amor incondicional, do carinho da manhã...
Gosto do sal das lágrimas, da gargalhada solta, do riso que escancara, da alegria que contagia...
Gosto dos pés enroscados aos olhos que dizem mais do que a alma, uma alma entorpecida, uma paixão sem medida...

Silvia Mara

domingo, 25 de janeiro de 2009

A descoberta





Quando se viu, percebeu que já tinha chegado.
Não sabia onde, nem porque estava ali, mas sabia que havia chegado
no seu lugar.
Tudo à sua volta parecia familiar, ainda que fosse sua estréia. Conseguia descobrir cada detalhe sem esforço, cada espaço lhe dizia para que servia. Era como se nunca tivesse saído dali. Mas como? Nunca estivera lá...

Sempre foi intensa. Amou demais, sentiu demais. Demais nem sempre é “em excesso”.
Suas emoções são sempre em demasia e é por isso que é tão feliz. As emoções transbordantes são partes de sua alma. Não existe como alguém morno. Tem veemência no que sente.

Sua essência é cheia de substância. Perfumes, trilhas sonoras, melodias, cheiros, sabores, gostos, dos doces aos ácidos, algo agridoce que inebria sua mente. Gosto de menta pela manhã, gosto de café depois de amar, gosto de chocolate à noite...e a música, intensa, vibrante, calma e serena, daquelas que te sacodem a noite inteira e te fazem adormecer no colo, como se fosse uma canção de ninar no seio materno, tum-tum, tum-tum...é o coração da genitora conduzindo ao sono.

Seus sentimentos são mais equilibrados. Mas isso é hoje, antes não eram assim. Eram como pólvora, agora são como um sundae de chocolate, deliciosos de serem saboreados. Ciúmes, só dela mesma. Ama-se tanto que não se permite dividir a atenção com o que não acrescenta. Amor, saudade, carinho, fome, sede, tudo equilibrado, nem por isso, menos intenso. Sem esquecer, ela não é morna... ela existe forte.

Sua existência a fez perceber que é a atriz principal. Merece esse papel no filme. Não vai se contentar em fazer parte de um making off, cenas extras, coisas que não fazem falta...Não!!! Ela está no menu principal, seu nome vem em letras garrafais, antes de qualquer outro. Ela escreve sua história.

Sua verdade a permite viver de forma plena, encontrando aos poucos seu rumo, seu norte. Ela percebeu que era a hora certa. Seu relógio não marcava hora nenhuma, apenas dizia em tons brilhantes que seu momento chegara.

Crescer, evoluir, alcançar, melhorar...era isso que ela estava fazendo ali, agora sabia. E agradeceu. Olhou para o céu, viu que ele tinha matizes incandescentes, cores que ela jamais tinha percebido que existiam. Mas como eram lindas!!! Sorriu um sorriso só dela, entendeu e agradeceu novamente...

Silvia Mara

sábado, 24 de janeiro de 2009




Strip-Tease


"Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história.

"Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui.

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca."

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Uma definição não encontrada no dicionário



"Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças"



Markus Zusak em "A menina que roubava livros"

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Experimente me amar...






“Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!”

O imprevisível...




Não tem coisa mais chata que o previsível. Ser surpreendido nos faz sentir vivos, sem condições de controlar o futuro, o destino. Quando percebemos, estamos nas mãos da vida, levados pelos seus caprichos, conduzidos pelos arroubos do amor, da paixão, da raiva, indiferença. Sim, a indiferença também tem arroubos...parece contraditório, mas não é.

O imprevisível e o improviso dão cor aos nossos dias, mudam o que estava certinho, programado, "sob controle". E aprendemos de forma estranha o quanto é bom não ter O CONTROLE. Podemos levar alguns anos, a vida inteira ou nunca aprender, mas quem recebe essa dádiva, ainda que lute, no final agradece por se permitir viver de verdade.

A vida tem graça quando não sabemos o que vai nos acontecer. A vida só tem graça quando é de fato vivida, sentida, desejada, sem saber onde começa e onde termina, com a única certeza de que estamos, todos os dias , surpreendendo e sendo surpreendidos.

Silvia Mara

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009


Só feliz...sempre feliz!!! Quem tem isso, não precisa de mais nada!!! Já tenho tudo!!!
Silvia Mara

Tempo Certo


Tempo Certo


”De uma coisa podemos ter certeza: De nada adianta querer apressar as coisas; tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto, mas a natureza humana não é muito paciente. Temos pressa em tudo, aí acontecem os atropelos do destino, aquela situação que você mesmo provoca por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer: Mas qual é esse tempo certo? Bom, basta observar os sinais... Quando alguma coisa está para acontecer ou chegar até sua vida, pequenas manifestações do cotidiano, enviarão sinais indicando o caminho certo. Pode ser a palavra de um Amigo, um texto lido, uma observação qualquer; mas com certeza, o sincronismo se encarregará de colocar você no lugar certo, na hora certa, no momento certo, diante da situação ou da pessoa certa. Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Lembre-se que: O universo sempre conspira a seu favor, quando você possui um objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento.”

Paulo Coelho

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Você é!


"Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê."

Martha Medeiros